O espetáculo Amor em 79:05” é uma adaptação do diretor Elias Andreato para o livro homônimo de Vinícius Márquez, estrelada por Josemir Kowalick e mais uma produção de Daniel Torrieri Baldi.
Com abordagem contemporânea, a montagem apresenta um escritor de meia idade em momentos de solidão, vivenciando o amor em seus múltiplos sentidos. Mostra os sentimentos, as frustrações, os desejos e as derrotas da personagem sob intensa égide poética.
E em pleno momento criativo, o homem imagina seu encontro com um jovem e belo rapaz (Eduardo Ximenes) e relata um cotidiano fictício desse relacionamento homoafetivo. Ele expõe as dificuldades da relação, alternando devaneios, discussões e momentos de ternura. As imagens são difusas. O jogo entre imaginação e realidade sugere também a possibilidade de ser o jovem quem está escrevendo a história. Fica a dúvida. “O que fica claro na peça é a certeza de que o artista é capaz de todas as fantasias. Para falar de uma dor é preciso inventar uma história”, comenta o diretor Elias Andreato.
A participação do jovem não tira o caráter de monólogo da peça (sua presença é quase etérea). Os diálogos não chegam a ocorrer, são solitários. A presença do interlocutor – imaginário ou não – reforça o sentido das palavras e atinge de forma eficaz aquele a quem são destinadas. “O jovem representa a presença da ausência nesse momento de amor e dor”, explica Josemir Kowalick. “Esse jovem pode representar também um desejo do escritor, projetado em sua cama”, completa o diretor.
Andreato argumenta que Amor em 79:05” discute a relação do tempo com o amor e a solidão. “O texto mostra a intensidade de um relacionamento, independente da opção sexual, e nos faz pensar nas relações afetivas que, hoje, são tão efêmeras, quando não se valoriza o contato direto, quando a tecnologia pode substituir a intensidade do toque, do olhar próximo. Há falta de tempo para falar de si, das angústias: muitos querem mesmo é provar, publicamente nas redes sociais, o quanto são felizes.”
A trilha sonora original do espetáculo – assinada por Fábio Sá – traz duas canções com letras de Elias Andreato, interpretadas (em gravação) por Josemir Kowalick. O diretor também criou o cenário da peça, o quarto do escritor, com poucos objetos como poltrona, uma cama e uma persiana (que possibilita frestas e transparências sem delimitar ou fechar o ambiente). A cenografia é composta também por projeções que reportam à natureza, sugerindo um universo lúdico em contaste com as dores expostas pela personagem.
Para Josemir Kowalick, a montagem propõe cumplicidade com o público, ao apresentar questões afetivas inerentes a todas as pessoas de forma sensível e, ao mesmo tempo, dura e direta. “Sempre é importante falar de amor, em todos os tempos, principalmente agora”.