Considerada uma ‘tragédia carioca’, de acordo com a célebre classificação do crítico teatral Sábato Magaldi para a obra de Nelson Rodrigues (1912-1980), A Serpente foi a última e mais curta peça escrita pelo “anjo pornográfico”, alcunha criada pelo próprio dramaturgo e jornalista pernambucano. Mesmo com apenas um ato, a peça de 1978 não deixa de criar polêmica ao retratar o amor de duas irmãs pelo mesmo homem.
Elas juraram nunca se separar e moram juntas na mesma casa com seus respectivos maridos. Lígia (Carolina Lopez) decide se suicidar porque tem um casamento infeliz – e não consumado – com Décio (Paulo Azevedo), que diz sofrer de impotência, mas, na verdade, tem um caso com outra mulher.
Para evitar que a irmã fizesse isso, Guida (Fernanda Heras) tem a ideia de emprestar Paulo (Juan Alba), o próprio marido, para ela por uma noite. O que Guida não esperava era que Lígia se apaixonaria por ele, muito menos que esse erro poderia resultar até em morte.
Esta é a terceira montagem de Eric Lenate para peças de Rodrigues: em 2013, ele dirigiu “Vestido de Noiva” e, em 2015, “Valsa Nº6”. O elenco conta ainda com a participação da atriz Mariá Guedes.
“Nelson Rodrigues tem uma capacidade impressionante de nos deixar constrangidos com nossa própria miséria e obtusidade. Sua obra deitada no papel é um espelho cruel de nossa face horrorizante. Ele é e será sempre bem-vindo em qualquer período de obscurantismo e miséria intelectual. Se, por vezes, ele parece ser machista, cuidado. Se, por vezes, ele parece ser racista, cuidado novamente. É provável que estejamos apenas olhando para um espelho. E o que fazemos com Nelson nesses momentos, sem conseguirmos compreender que é provável que estejamos olhando para nossa própria face?”, comenta o diretor.
A realização da peça é da Moira Produções Artísticas e produção da Pipoca Cultural e Desembuxa Entretenimento.
Indicada ao Prêmio Shell em duas categorias: melhor iluminação (Aline Santini) e melhor trilha sonora (L. P. Daniel).